Edward Angle (conhecido como o “pai da Ortodontia Moderna”) afirmou que a respiração oral é “a causa mais potente, constante e variada” de maloclusão dentária. Segundo ele, é essencial evitar respirar pela boca e, portanto, que se opte respirar apenas pelo nariz.
No entanto, é mais fácil falar do que fazer, não é mesmo? Atualmente, milhões de pessoas pelo Brasil são respiradores bucais, o que pode estar por trás da prevalência de maloclusões nos brasileiros. Para se ter uma ideia, 80% a 89% das crianças no Brasil apresentam algum tipo de maloclusão dentária.
Quer entender melhor essa relação entre a respiração oral e os tipos de maloclusão dentária? Siga a leitura do artigo abaixo com atenção!
Como a respiração oral afeta a oclusão dentária?
Quando se transforma em hábito e não em algo pontual, a respiração bucal causa diversas alterações no corpo, a começar pelo desenvolvimento craniomandibular (os ossos do crânio e da mandíbula). Na prática, tudo começa pela adaptação necessária para criar um fluxo de ar pelas vias orais.
Para manter o fluxo respiratório pela boca, o respirador bucal precisa manter seus lábios abertos. Além disso, sua língua sai da posição correta (que é encostada no palato, o “céu da boca”) e fica mais baixa, próxima dos dentes da parte debaixo da boca.
Essa “simples” alteração (que, na verdade, é complexa) gera muitas consequências. Como nosso foco neste conteúdo é na oclusão dentária, falaremos primeiro sobre o impacto da respiração oral nesse aspecto.
A origem das maloclusões está no desenvolvimento inadequado das estruturas craniomandibulares, ou seja, no fato de os ossos do crânio e da mandíbula não atingirem seu potencial genético total.
A musculatura do rosto, bem como os lábios e língua, afeta diretamente o desenvolvimento dessas estruturas. Afinal, estamos falando de músculos muito potentes e com incrível potencial transformador. Não parece, né?
Quando pensamos em músculos fortes, normalmente pensamos nos músculos do braço, ombros e pernas, mas os do rosto também são extremamente poderosos. Por exemplo, a língua e os lábios são capazes de produzir 500g e 300g de força, respectivamente. Considerando que é necessário cerca de 2g de força para mover um dente anterior, fica bem evidente como esses músculos podem influenciar a oclusão dentária.
Quando a respiração pela boca começa e se torna um hábito na infância, o crescimento facial do respirador bucal fica comprometido. A mudança de posição da língua e a boca constantemente aberta fazem com que o rosto fique mais “alongado” e com pouca amplitude dos arcos. Daí surge a primeira maloclusão relacionada à respiração bucal: o apinhamento dentário. Ele é causado porque os arcos dentários não foram desenvolvidos totalmente e, assim, os dentes ficam sem espaço para erupcionar. Logo, eles crescem “uns por cima dos outros”.
Além do apinhamento dentário, que já explicamos acima, respirar pela boca também está relacionado ao surgimento de maloclusões como mordida cruzada anterior e mordida aberta.
Um ponto importante a ter em mente é que a respiração pode dar margem a outros maus hábitos miofuncionais, o que também gera maloclusões de outras formas. Por exemplo, manter a boca aberta constantemente muda o posicionamento da língua — que é um mau hábito miofuncional. Em muitos casos, também altera o padrão de deglutição, já que força a musculatura a se adaptar a esse novo posicionamento da língua) — outro mau hábito.
Assim, respirar pela boca dá início a uma espécie de “bola de neve” que pode gerar outras maloclusões.
O que mais a respiração oral causa no corpo?
Lembra que mencionamos que respirar pela boca causa mudanças no organismo todo? Então, além de afetar a oclusão dentária, como mencionado, a respiração oral também gera alterações em todo o corpo.
Por exemplo, para facilitar o fluxo respiratório pela boca, a cabeça do respirador bucal fica um pouco para frente. Por consequência, a coluna precisa se ajustar para conseguir sustentar o novo posicionamento da cabeça.
A mudança na coluna gera alterações em outras partes do corpo também, como deixar os ombros encurvados e a barriga mais protuberante. Até os joelhos e os pés ficam “fora de posição” para se adaptar à respiração bucal.
No entanto, as alterações não são apenas na postura corporal. A funcionalidade dos músculos também é afetada, afinal, esses são maus hábitos miofuncionais — “Myo” é “músculos” em grego e “funcional” está ligado à funcionalidade).
Por exemplo, os músculos orofaciais do rosto, garganta, boca e língua perdem tônus com a respiração oral. Assim, durante o sono, eles vibram quando o ar passa, causando o ronco.
Também durante o sono a falta de tônus desses músculos impede que eles deem sustentação à mandíbula, que pode cair sobre a traqueia e interromper o fluxo respiratório. Daí surge a apneia do sono.
Outros distúrbios e condições causados ou ligados à respiração oral também incluem:
- Bruxismo: dormir com a boca aberta a deixa seca e, para estimular a produção de saliva, o cérebro instiga uma “mastigação”;
- Enurese noturna em crianças: a respiração bucal reduz a presença de Óxido Nítrico no corpo. Por sua vez, a deficiência dessa substância reduz o nível de oxigênio no sangue e pode causar o xixi na cama;
- Disfunções da ATM: a respiração bucal, junto da deglutição atípica, são possíveis causas das Desordens da ATM.
Corrigir a respiração bucal ajuda a corrigir a oclusão dentária?
De certa forma, corrigir a respiração bucal ajuda a alcançar algum nível de correção da maloclusão. No entanto, é importante entender que essa correção depende de muitos fatores, como a idade do respirador bucal.
O mais importante a se ter em mente é que corrigir a respiração bucal ajuda a prevenir que a maloclusão volte a aparecer, algo que, infelizmente, é comum em tratamentos que não abordam os maus hábitos miofuncionais do paciente.
Para se ter uma ideia, 90% de todos os tratamentos usando um aparelho fixo tradicional acabam em recidiva, ou seja, os dentes voltam a ficar tortos se o paciente não utilizar uma contenção para o resto da vida.
Por isso, corrigir a respiração bucal atua na origem do problema, o que já é excelente, pois melhora muito a saúde e a qualidade de vida do respirador bucal. Além disso, em conjunto a um tratamento ortodôntico para correção da maloclusão, o resultado é muito satisfatório e duradouro.
Agora que você entendeu que a respiração oral pode estar por trás de tantos problemas, incluindo muitos tipos de maloclusão dentária, é hora de saber como corrigir esse mau hábito em você ou em algum filho.Descubra agora mesmo se a respiração bucal tem tratamento e como usá-lo!









